Rage Against the Machine: a trilha da revolução?
Rage Against the Machine: a trilha da revolução?
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• Recentemente, a banda norte-americana Rage Against the Machine tornou-se notícia em todo o mundo. E não foi apenas por ser a banda principal do segundo dia do tradicional festival de rock Lollapalooza. A banda causou espanto ao remar contra a “obamania” que toma conta dos EUA. Em frente a milhares de pessoas que lotavam o Grant Park, o vocalista Zack de La Rocha disparou: “Nós não votamos em Obama. Sabem por quê? Porque é o povo que deve tomar o poder”.
Como se não bastasse a afirmação de que não votariam no homem apontado como a esperança de renovação dos EUA, o Rage tocou a Internacional quando voltou para o bis. Mas, quem é essa banda que não tem medo de causar polêmica e demonstra não ter papas na língua? Quem acompanha a banda de Zack de la Rocha está acostumado a inflamados discursos em pleno palco e letras mais do que subversivas entoadas em pleno coração do império.
Artista ativista ou ativista artista
O Rage Against the Machine despontou no começo da década de 90. Liderado por Zack, filho de imigrantes mexicanos, a banda ficou famosa por sua postura política e de enfrentamento contra o imperialismo, o militarismo norte-americano e a censura. Participaram de campanhas como a libertação do Tibet e contra a prisão e condenação à morte do ex-pantera negra Múmia Abu Jamal. Em um show da reedição do Woodstock, em 1999, o Rage chegou a queimar uma bandeira dos EUA enquanto tocavam uma das canções mais conhecidas do grupo, “Killing In the Name”.
A música faz parte do primeiro álbum da banda e tem versos como“E agora você faz o que eles te ordenam, agora você está sob controle”, explodindo num raivoso refrão “Fuck You, não vou fazer o que você me diz”. Musicalmente, o Rage expressa toda a fúria e revolta das letras de Zack, numa mistura explosiva de metal, funk e rap. Tal sincretismo musical é fruto das influências diretas do jovem vocalista, impressionado com o punk rock de bandas como o Sex Pistols, Bad Religion e Social Distortion.
Posteriormente, Zack toma contato com o rap e grupos como o Public Enemy, um dos pioneiros do rap de protesto e influência notável no som do Rage. Além das várias referências, o Rage Against the Machine contava ainda com o guitarrista Tom Morello, que desenvolveu riffs e um estilo peculiar de solar que se tornaram marcas do grupo. O resultado disso tudo foram shows catárticos que incendiavam o público e transformava o momento num verdadeiro evento.
Trilha da revolução
Música e política eram elementos indissociáveis ao grupo. “Estou interessado em expressar minhas idéias através da arte, porque a música tem o poder de cruzar fronteiras, quebrar barreiras militares e estabelecer um diálogo real”, definiu Zack. Durante a década de 90, o grupo apoiou o zapatismo e o Exército Zapatista de Libertação Nacional, que foi, durante o período, um dos principais movimentos sociais do México e referência internacional.
Em 1996, ao tocar a música “Buls on Parade” de seu segundo álbumEvil Empire, no tradicional programa de humor Saturday Night Live, o Rage Against the Machine colocou as bandeiras dos EUA invertidas nos amplificadores. O protesto contra a hipócrita democracia norte-americana e o sistema bi-partidário norteou toda a carreira do grupo.
Tal postura não poderia deixar de atrair a fúria dos conservadores, principalmente no país centro do imperialismo. Impedimento de shows em algumas regiões tornou-se recorrente. Após o 11 de setembro de 2001, as músicas da banda chegaram a ser totalmente censuradas em algumas rádios. Prova de que, mesmo após seu fim, o Rage continuava a incomodar. A banda terminara um ano antes sem muitas explicações.
Nos anos seguintes os remanescentes do grupo escalaram o ex-vocalista do Soundgarden, Chris Cornell, e formaram o Audioslave, que teve vida efêmera. Já Zack se enveredou por projetos solo. Em 2007 os integrantes se reuniram novamente para alguns festivais e turnês. A reunião durou mais tempo que o previsto e gera agora a expectativa para a volta definitiva do grupo.
Assim como as músicas da banda embalaram os protestos de Seattle no final do século passado, talvez o Rage faça parte da trilha sonora das revoltas e revoluções que ainda virão.